03
Ago07
No regresso.
Marco
Eu sei que aquilo não foi bem a vida como ela é. Sei que foi mais um género de parêntesis, como que um pedaço de existência entalada no meio de uma realidade muito maior, mais séria, repetitiva, difícil. Eu sei que a esta hora, a vida já regressou ao quotidiano e por isso imagino o Ego a chegar a casa cansado de mais uma entrega, fechado dentro da sua calma, envolto em pensamentos, recheado de sonhos por concretizar. Ideias que lhe fluem ao ritmo da respiração, projectos que esperam o seu sim definitivo para poderem avançar.São vazias as ruas de New Bedford. Quase esquecidas. Existem papéis que voam perdidos ao ritmo do vento envergonhado que sopra sempre que se lembra. Passam carros devagar que parecem sem rumo, perdidos. Eu sei que a esta hora, se olhar para a rua, a Nilza vai sentir isso mesmo. As ruas, os papéis, o vento, os carros. Imagino-a atarefada, correndo atrás de cada pedido como se o mais importante de sua vida. Os óculos na cara disfarçam-lhe uma beleza que apenas reserva para os seus amores: o Djilas e a pequena Kyra.
As sucessivas casas de madeira parecem-se umas com as outras. Abrigam as vidas da vida, dão-lhes espaço, o seu espaço. O espaço onde imagino a Fátima, deitada no sofá, depois de mais um dia de mil temperos. Brilham-lhe os olhos como se diamantes preciosos, sorri-lhe o rosto como se a magia fosse coisa fácil. Toca o telefone. Ema. Longe, em Orlando. Perto, mesmo ali, sempre presente. Porque assim é uma família, unida, forte, indestrutível. Todos os dias, sobretudo naqueles sem parêntesis.
Obrigado a todos. Nunca vos esquecerei.